Sinal de celular é a principal ferramenta para achar soterrados em Brumadinho
Um dos maiores problemas para as equipes de busca da Polícia Civil em Brumadinho é encontrar os corpos dos desaparecidos. Afinal, essas pessoas foram soterradas por metros e metros de lama em um raio de dezenas de quilômetros, e não há “raio-x” capaz de mostrar o que há embaixo da lama para os profissionais responsáveis pelo resgate saber onde cavar. Mas existe um aparelho comum que pode ajudar nessas buscas: o celular.
Isso porque, como o aparelho é programado para estar em comunicação constante com alguma antena, ele está o tempo todo enviando sinais de rádio frequência que podem ser lidos pelos equipamentos certos. Por isso, a Justiça Federal de Minas Gerais obrigou, a pedido da Advocacia Geral da União (AGU), as operadoras de telefonia a compartilharem os sinais de celular captados na região. Apesar de, normalmente, esses dados só poderem ser liberados sob decisão judicial porque o sigilo deles é protegido pela Constituição, foi considerado que a situação de emergência era motivo suficiente para a emissão rápida de uma autorização.
Assim, as empresas Algar Telecom, Claro, Nextel, Oi, Sercomtel, TIM e Vivo (todas operadoras da região) receberam a intimação no sábado (26), um dia depois da tragédia. Apesar da urgência desses dados — afinal, com a relação de todos os celulares captados pela Estação de Rádio Base (ERB) das imediações, é possível fazer uma triangulação e diminuir as áreas de busca pelos corpos — as operadoras não parecem sofrer da mesma urgência. Ainda que as companhias tenham confirmado que irão apresentar toda a relação de números captados entre os dias 25 (quinta) e 26 (sexta) para a Polícia Civil, nenhuma delas informou quando essa compilação será liberada, e essa falta de urgência pode atrasar ainda mais as buscas.
Mas, ainda que não estejam tão cooperativas nessa parte da liberação dos dados das torres, as operadoras já estão ajudando as equipes de resgate com a liberação de todas as torres para qualquer aparelho. Normalmente, os celulares só se conectam a torres que pertencem à operadora do chip ou chips que estão instalados no aparelho. Mas, para facilitar a comunicação entre as equipes de buscas, todas as operadoras liberaram as torres da região para o uso de qualquer aparelho, melhorando a área de cobertura e garantindo que qualquer um que participe do resgate não fique em áreas sem sinal — o que os impediria de se comunicar com o resto da equipe caso encontrem alguma coisa.
Além de intimar as operadoras, as equipes de busca também estão sendo auxiliadas pelo exército de Israel, especialista na atuação em áreas de desastre. Um dos equipamentos trazidos pelos soldados é uma espécie de sensor capaz de detectar os sinais de rádio emitidos pelos celulares, permitindo fazer varreduras rápidas nas áreas para achar onde existe um celular — e, muito provavelmente, um corpo. Mas essa tecnologia não é perfeita: ela só consegue detectar sinais que estão a no máximo quatro metros de profundidade, e é preciso que o aparelho esteja ligado e funcionando.
Então, é uma corrida contra o tempo, pois não apenas é bem possível que diversos aparelhos tenham parado de funcionar caso tenham sido atingidos pela lama, mas mesmo aqueles que de algum modo ficaram protegidos correm o risco de desligarem a qualquer momento, já que o acidente ocorreu há três dias e, mesmo sem nenhuma atividade, a bateria do celular comum dificilmente dura muito mais do que isso.