A era da transparência
Byung-chul han, um teórico cultural germano-sul coreano, discorre em seu livro, A Sociedade da Transparência, uma leitura sobre os tempos atuais onde fundamentos morais da nossa sociedade estariam se dissolvendo ou, no mínimo, mais frágeis. E, a partir desse pensamento, surge uma demanda urgente por transparência, numa sociedade pautada pela suspeita e pela desconfiança. Tomei isso como ponto de partida para exaltar algumas narrativas que surgem nesse vácuo, para levantar uma provocação que acredito ser relevante em 2019: qual será a sua narrativa?
Sobre narrativas
Steve Jobs discursou por alguns minutos para seus funcionários, em meados de 1997, sobre a nova estratégia de branding da Apple. Nesse video é possível ver a simplicidade da narrativa de Jobs sobre o que ele entende sobre a narrativa da Apple.
Basicamente o conceito está fundamentado sobre honrar outras figuras importantes na história do mundo. Segundo Jobs, a Apple honra e, consequentemente, acaba homenageando as grandes personalidades da humanidade que tiveram coragem o suficiente para tentar mudar o mundo, mesmo sendo taxadas de loucas.
Nesse mesmo vídeo ele explicita o caso da Nike, que honra os atletas, os profissionais, os amadores e os que ainda estão no caminho para um ou para outro propósito. Isso fica muito claro quando a empresa explicitamente toma um partido político ao apoiar e colocar Colin Kaepernick como peça central da campanha, após as polêmicas envolvendo o jogador e sua posição contra as políticas do presidente Trump.
E porque isso é importante
Ora, se Byung-chul estiver certo e nossas instituições realmente estiverem enfrentando esse colapso, passa a ser de extrema importância a forma como empresas e marcas se posicionam e como elas criam essa aura que está para além do produto ou serviço comercializado.
E muitas vezes isso não é algo planejado. Em um dos trabalhos que realizei em 2016, passei por uma entrevista com um usuário que mudou completamente o rumo do projeto. Por conta de uma simples frase sobre o Waze. Segundo o entrevistado, que era um taxista, o Waze foi mais do que um app para otimizar seu tempo, porém transformou a relação de confiança entre o passageiro e o taxista. Se antes não sabíamos se estávamos sendo enganados ou não durante uma rota desconhecida, hoje temos total confiança de que o Waze está indicando o melhor caminho e, consequentemente, não estamos sendo passados para trás.
A narrativa e o propósito
Durante o evento VTEX Day deste ano tive a oportunidade de assistir uma palestra da Nathalia Arcuri, criadora do Me Poupe, o maior canal de educação financeira do Brasil.
Nela, Nathalia nos contou sobre a motivação por trás do conteúdo de seu canal. Segundo ela, tudo nasceu de uma vontade de ajudar mulheres financeiramente dependentes de seus cônjuges a conquistar sua independência. Durante seu tempo como jornalista ela esbarrou em alguns dados bem sombrios sobre a violência doméstica, dentre eles uma alta taxa de mulheres que continuavam morando com seus agressores justamente por não terem condições financeiras de sair de casa.
Então, qual a sua narrativa?
Esse ano tem sido muito impactante nesse assunto e me fez pensar muitas vezes sobre esse tipo de construção. Se vivemos numa sociedade pautada pela falta de confiança, como criamos narrativas que mudam esse jogo e entregam mais tranquilidade para as pessoas envolvidas? Sejam elas clientes ou colaboradores.
Qual a nossa narrativa? Quem estamos honrando? Nossa história nos aponta em qual direção? Tenho me perguntado frequentemente essas questões em diversos aspectos, tanto profissional como pessoalmente.
Yuval fala no Sapiens que um dos grandes motivos da humanidade ter chegado onde chegou deve-se ao fato de que sabemos criar, manter e propagar narrativas.
Hoje temos uma quantidade infernal de informações e transparência sobre tudo, o que dificulta inclusive a verificação dessa transparência. Nesse cenário ter uma narrativa sólida, concisa e tocante se torna, no mínimo, necessário.